é só mais letras.

sábado, 28 de janeiro de 2012

 um dialogo que não aconteceu e nem acontecera, 
eu e o moreno que roubou o verão. 



A: - Você só não pode ficar ai fora, por favor, entre.
M: - Não posso entrar. Não vê a bagunça que esta ai dentro. Sua casa nunca foi tão desordenada e escura.
A: - Eu sei, eu sei. Desculpe, não deu tempo de arrumar as coisas. Você não me avisou que queria entrar. Mas prometo que lhe será confortador aqui dentro, agora entre pois vai começar a chover.
M: - Desculpe-me, não posso.
A: - Por quê?
M: - Eu tenho medo...
A: [silencio]
M: - Não quero me perder dentro de ti.
A: - Então segure minha mão, que eu prometo jamais soltar a sua.
M:- Mas eu não vou poder te ver. Esta assustadoramente escuro ai dentro.
A: - Então apenas sinta o calor das minhas mãos aquecendo as tuas.
M: - Mas é frio perto de ti, eu sinto frio quando estou contigo.
A: - Entra aqui que lhe faço um café, fecho as janelas, pinto as paredes, compro cortinas azuis e acendo um sol pra iluminar seu rosto assustado. Você só precisa entrar que eu movo o mundo pra te fazer ficar.


Alinne Ferreira

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ao moreno que me roubou o verão

Tudo bem se quiser partir, a porta sempre esteve aberta (esse foi o trato não foi?). Por esse motivo que eu não lhe seguro pelos cabelos e lhe peço pra que fique... Eu lhe disse que não me apaixonaria, então, por favor, me desculpe por não conseguir cumprir essa promessa tão simples e egoísta. Esta tudo bem meu moreno, pode ir... Eu lhe prendi com correntes tão grosseiras que certamente deve ter lhe machucado, perdoe-me. É que com tantas marcas de algemas quebradas nos meus pulsos eu optei por elos mais fortes. Mas dessa vez eu lhe deixo livre, embora seja arrogância de minha parte querer libertá-lo já que nunca foi realmente meu ‘prisioneiro’, você nunca foi de fato meu. Pois bem, minha casa sempre esteve escancarada pra quando quisesse sair, só não esperava ser tão cedo.

Passe pela sala e pegue algumas coisas que trouxe consigo para, aqui, pra dentro de mim. Leve seu radinho a pilha que costumava tocar nossas musicas... Por favor, leve-o na tua bagagem e dedique às canções a outra moça que se encantará provavelmente por ti, assim como eu. Nas prateleiras haverá algumas memórias de quinta-feira à tarde, essas eu te peço que as deixe no lugar... Para que eu possa recordar que não lhe causei mal algum. Deixe as memórias enfileiradas na prateleira para que eu não sinta culpa por tua partida, só para eu me lembrar que foi naquele dia que permiti a queda dos muros que construí ao redor de mim. No chão da sala terá parte de mim num canto escuro e sujo, essa parte de mim eu não pretendo ajuntar as outras, portanto essa minha parte é sua. Faça o que bem entender com ela, mas apenas lembre-se que essa é a melhor parte de mim, a parte que já não existe mais sem tua presença. Essas são as coisas que você não pode esquecer, essas são as coisas que você trouxe pra mim, para dentro da minha casinha pequena e escura.

Moreno, embora me doa, quando você estiver partindo terá o meu sorriso e aceno de minhas mãos tremulas na porta dos fundos. Terá de mim também uma pequena e inaudível oração pedindo a Deus para que lhe guie os passos. E eu esperarei com todas as minhas esperanças que você olhe para trás... E perceba o meu choro contido e reprimido pelo sorriso largo lhe desejando toda sorte do mundo.



Alinne Ferreira

sábado, 14 de janeiro de 2012

Sobre um sábado eterno



O noticiário jamais me fez chorar como daquela manhã. Sua foto ocupando toda minha TV pequena, a foto que tiramos em maio no parque do sul, seu sorriso estava agora tomando parte da tela pequena, seus olhos espremidos agora estavam apagados. Consigo imaginar a cena narrada pelo moço da TV: Seu corpo no escuro chão do banheiro, algumas manchas de sangue, remédios... Mas tinha algo que o repórter não descreveu, mas consegui imaginar: Era sua dor, ali toda derramada no piso negro, espiradas nas paredes. 

Uma dor minha, uma dor que comecei a sentir e que dificilmente me deixaria viver.

Fiquei um bom tempo sentado na cama, mesmo depois do moço do noticiário se calar, mesmo depois do jornal anunciar o seu fim e mesmo depois de começar uma seqüência interminável de desenhos animados... Eu não conseguia me mover, fiquei imóvel sentado na minha cama, tão repentinamente fria, chorando baixinho. Meu anjo tinha lhe arrancado as próprias asas e resolveu voar sem elas, caiu, quebrou, morreu, se matou.

Levantei depois de longos minutos imóvel, e devagar caminhei ate a cozinha. Preparei café, um café pra dois... E comecei a lhe redigir uma carta.

Oi meu Amor, é egoísta te chamar de minha. Mas quando você se foi, foi sendo minha. Minha doce e pequena Eliza...

Seus olhinhos agora estão brutalmente fechados em algum lugar onde te levaram, queria poder lhe entregar sua xícara com o café quente e amargo que fiz hoje e conversar sobre como foi fria a madrugada sem seus braços envoltos a minha cintura, mas quero lhe pedir perdão. Perdoa-me por não poder lhe salvar dos teus próprios pensamentos, e por diversas vezes ter provocado cada um deles. Perdoa-me por ter te tirado da minha casa quando você mais precisava de um lar. Perdoa-me por lhe roubar os mais belos sorrisos e por ter sido, a mim, que as tuas mais doces palavras foram endereçadas, mas se lhe conforta hoje sou feito de fel. Sei que não lhe confortará, pois não pode mais ver minha amargura, os teus olhos se fecharam... Para sempre. Mas por favor, perdoe-me.

Eliza hoje vou comprar um buque de flores para lhe dar, sei que sempre me pedia para que eu lhe enviasse flores em seu trabalho, mas nunca tive tempo, me desculpe por resolver ‘colhe-las’ somente agora quando já não pode sentir o perfume de cada uma das pétalas, nem mesmo poderá ver meus olhos inchados e meu corpo desfalecendo sobre ti. Mas prometo que as flores serão uma das mais lindas e belas que encontrar no caminho ao teu velório, já que a mais linda flor que conheci murchou. Vou cantar pra ti Eliza, com minha voz fraca e falha, Vou cantar sua falta.

Mas uma vez Perdoe-me por não lhe  amar devidamente, mas amei do jeito que pude. Ainda que fosse torto e lhe machucasse com os espinhos que não soube cortar, eu lhe amei. Vou te amar pra sempre com os restos que me sobraram, minha Eliza.



Eu soube de algumas coisas esta manhã, umas quebraram-me ao 
meio de tal forma que nada será capaz de concertar-me. 
Outras eu soube que seria minha rotina... 
Escrever cartas a ti e lhe entregar flores.
Desculpe-me por não poder te salvar...




Alinne Ferreira

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Segurava tuas mãos numa suplica ensurdecedora por silencio, e tudo que tu fazia era ignorar meus tantos pedidos por tua boca calada e teus olhos próximos. Sua voz em um tom acentuado me trazia constantes dores no peito, mas me recusei a fazer algo alem de desejar o teu silencio.

Alinne Ferreira 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Uma rápida conversa que amargurou-me

-Você é tão quieta minha jovem, me traria certa admiração se um dia desses quebrasse o silencio e gritasse.
-Mas eu grito seu moço, apenas meus gritos são talhados por uma caneta em algumas folhas de papeis. Meus gritos são feitos de palavras. Caso tivesse interesse em ouvi-los tu certamente não se admiraria. Assustar-se-ia. Eles são atormentadores.


Alinne Ferreira