as ruas, os prédios, as vielas, os espaços
e se eu deletar todas as músicas?
as vozes, as sinfonias, as melodias, os acústicos, aquilo que ouvíamos juntos e não queríamos mais soltar?
e se eu deletar o gosto das comidas que passaram pela minha boca enquanto eu estava com você, o que é que fica?
o dia que fomos àquela hamburgueria, os almoços de domingo, os chocolates, as balas, a saliva do beijo, o gosto do sexo. se eu excluir tudo isso, o que é que fica?
se eu desvencilhar sua presença da cidade, da faculdade, das igrejas, dos mosteiros, do país, aonde é que você existirá?
se eu extirpar todas as lembranças das idas à livraria, dos cinemas na Augusta, das brincadeiras de correr um atrás do outro em plena avenida intransitável; se eu deletar você e tudo que você me deu; se eu simplesmente te deletar como se deleta um álbum de fotos do IPhone; se eu não voltar nunca mais aos ambientes que fizemos nosso; se eu estalar meus dedos e de repente deus tocar no meu cérebro um esquecimento; se eu passar uma borracha do tamanho do mundo em cima da Rua Consolação e de tudo que ousar proclamar seu nome?
e se eu fosse você por um dia e resolvesse deletar cada célula respiratória que te constitui? será que você ainda se gabaria de ter sido o mais ileso da história?
me apagar não fez de você melhor. eu ainda vivo.
textos crueis demais para serem lidos rapidamente
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