terça-feira, 13 de janeiro de 2015
(...) Sem querer, lembro de uma antiga história de fadas: duas pombas furavam os olhos de duas irmãs más, você lembra? Havia fadas, naquela história. Não há ninguém dançando sobre os telhados. Nunca houve. Para não ver o cinza que se transforma em verde, olho para além deles. O dia está muito quente. Quando a tarde avançar, sei que me encontrará sentado no degrau. E depois que o cinza tiver se transformado em rosa e em negro, sei que estarei parado no centro daquele quarto, ouvindo gritinhos estridentes e o bater de asas dos morcegos. Gritarei, então. Muito alto, com todas as minhas forças, durante muito tempo. Não sei se foi esta a ordem, se é esse o sentido, se será assim o depois. Mas acho que sei com certeza que nem você nem ninguém vai me ouvir.
(Morangos Mofados - Caio Fernando Abreu)
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