é só mais letras.

domingo, 13 de novembro de 2011

O encontro.


Olhos baixos coberto por uma imensurável tristeza. Observo com certa distração e lentamente as paredes escuras que me rodeiam. Respiro com tamanha dificuldade procurando oxigênio em meio a esse ar de solidão que toma a sala. Lembro-me do doce abrigo que um dia fora essa solidão, mas hoje a não é mais. Não soube lidar com ela, nem com minhas perdas, e então me afundei, me joguei nesse abismo sem me preocupar se havia cortado minhas asas na ultima tentativa de suicídio.

Nesse momento, sentada nesse chão frio, observo a imensidão que passou a existir dentro de mim. Quando foi que se tornou tão assustador e obscuro lá dentro? Quando foi que esse vazio tomou conta de mim?

Há um par de olhos me observando na porta, são olhos claros. Lembro-me deles a dois dias atrás, descansando em meu corpo, enquanto dormia. Consigo ouvir os sussurros daquela noite. Ele me dizia baixinho com toques de promessas na voz: ‘não vou embora meu bem, dorme pássaro meu. Vou fitar-te a noite toda, não vou deixar-te ir e nem permitirei que eu mesmo vá’. E eu dormi, sonhei contigo durante a noite toda. E no meu sonho tu despedias-se de mim, e partia. E quanto a mim, tu me deixaste no chão e alçou vôo. E ia por entre as nuvens, que costumávamos delinear, sumindo.

Quando acordei, teu corpo ainda estava ali colado ao meu, tua mão frigida segurava a minha sem força alguma. Revirei-me na cama ao teu lado ao encontro de teus olhos, e encontrei-os fechados, Tua pele fria tocando todo meu corpo e o ar secou pra ti. Tu aprofundaste-se em um sonho que não se pode voltar, não há mais como acordar. Porque meu bem? Porque realizou meu sonho? Porque voou sem mim? Deixou-me sem ninho, e sozinha.

Algo em mim quebrou. E por dois dias não voltou. Tentei viver, tentei continuar, mas entenda que teu suicídio bem sucedido me incomodou. Lembro da promessa que fizemos quando me salvou, dissestes que iria me aguardar no portão do céu, ou seja lá para onde vão almas suicidas. Disse também, que não permitiria que eu fosse antes de ti. Mas não disse que partiria sem despedidas (e sem mim).

Noite passada, tomei todos os comprimidos que achei pela casa, seguidos de grandes goles de álcool barato. Viver sem ver os teus olhos claros seria verdadeiras punições. Não suportei tamanho desespero, perdoe-me, mas fui ao teu encontro.

São essas as recordações que me atormentam nessa sala escura, recordações de dois suicídios ‘seguidos’. Mas ‘meus’ olhos claros estão na porta dessa sala me esperando, como prometeu. Respirar agora se torna algo fácil, não respiro mais aquele ar denso. A sala já não é mais tão escura, tenho as asas de um anjo me abrigando. E dessa vez, por toda eternidade.
Alinne Ferreira

3 comentários:

  1. Querida, tenho os mesmos pensamentos, as mesmas angustias. Mais eu já passei da fase de ser romantica. Fiquei fria conforme o tempo, havia cansado de machucar meu coração, e me afastei de tudo e todos, a solidão não me deixa.

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  2. Nossa, mesmo sendo trágica a história se faz bela.
    Essa angustia e até mesmo esses pensamentos mórbidos já me acometeram em varias madrugas.

    E sim, o seu texto me fez lembrar de uma música: http://www.youtube.com/watch?v=DCquF-2elo8
    A história é diferente e o vídeo teu seu lado cômico, mas há semelhanças em ambos.


    Enfim, bj

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